O instrumento de avaliação enquanto avaliador dele mesmo

Sim, este é um post sobre Biblioteconomia.

Bons dias, meus empurradores de carrinho! Tudo em cima? Eu estou cansadita e desdentadita, tirei todos os sisos de uma vez e não aguento mais não poder comer comida que não seja líquida ou pastosa. Pra sorte de vocês, eu não estou aqui para lamentar meus dentes extraídos (poderia, mas não estou)! Pro azar, eu vou falar de trabalho 😬

Essa semana lançamos um Estudo de Usuário na firma. Apesar de ser formada há exatos dez anos (meu deus...), nunca tinha feito um e ainda estou com medo das respostas. Entretanto, fazer um formulário de avaliação não é só ter de lidar com as queixas e sugestões de pessoas que muitas vezes não têm ideia do que se passa nos bastidores de uma biblioteca (e tá tudo bem, ok?): é lidar também com as possíveis interpretações do formulário em si.

Em suma: tem gente que é meio burrinha, mesmo.



Quando minha gerente me incumbiu de estudar estudos de usuário (desculpa a aliteração, acontecerá novamente), confesso que senti um pouco de medo. Apesar de ser a rainha do Google Forms, eu nunca tinha conduzido um estudo de usuário na vida e tava achando que seria grandes coisas e algo super complexo, mas os artigos me mostraram que não. Existem muitas ferramentas legais de universidades tanto brasileiras quanto gringas (Duke University, 2023), mas no fim, lendo os artigos percebi que a maioria dos estudos de usuário são mais básicos, mesmo. No fim, acabamos nos inspirando em um formulário em específico (Felicio et al, 2021), mas mudando algumas das perguntas principais porque queríamos a nossa versão mais enxuta -- é muito difícil fazer as pessoas responderem questionários. 

É sério.

A gente sempre espera três gatos pingados e um cachorro querendo salsicha.

Decidimos fazer pelo Google Forms, que, embora não seja a melhor ferramenta para coleta de respostas, é a que temos acesso mais rápido e fácil (e a que eu manjo mais, então, posso dizer com certo orgulho que a principal razão da escolha foi... preguiça) e a firma assina o pacote premium, então já ficaria integrado a outras soluções de infraestrutura de escritório que a gente já usa. Também, como o Google Forms já é utilizado pela galera em outras coisas, acho que fica mais intuitivo pras pessoas que responderem, também.

(Mas o motivo principal realmente foi preguiça.)

E enquanto eu observava as respostas da galera que frequenta a firma, eu parei pra refletir sobre como instrumentos de avaliação de serviços (como um estudo de usuário) é também um avaliador de si mesmo. Vou tentar exemplificar:

Nós colocamos como uma das categorias de resposta o termo "Colaborador". No geral, mesmo, porque pra gente meio que é irrelevante se a pessoa é do instituto daqui ou do prédio vizinho, mas, por alguma razão misteriosa, algumas pessoas responderam no outros que são... Colaborador - Instituto Y.


Mona. Me ajuda a te ajudar.

E claro que isso é também um medidor do quão claro um instrumento de avaliação está, porque se a pessoa respondeu algo redundante no formulário, isso diz muito mais sobre a maneira como construímos a coisa do que sobre a pessoa respondendo.

Enfim, comecei a analisar as respostas, então, sob esse viés, o do viés de "instrumento enquanto avaliador de si mesmo". Alguns ruídos eram bastante óbvios, como o exemplo do colaborador (a gente poderia ter separado por instituto? Poderia, mas como isso não faz sentido pra gente, nem passou pela nossa cabeça). Outros, foram cabeçudagem mesmo: esquecemos de colocar um dos endereços de email institucional e o pessoal achou que eles não poderiam participar do sorteio de agradecimento. Esse feedback implícito e involuntário é muito importante não só pra outras pesquisas futuras que por ventura a gente faça, mas também para ajudar na leitura dos dados: afinal de contas, um dado só é uma informação se a gente tem com o que significar ele, certo? (Le Coadic, 1996). Saber (na verdade inferir é uma palavra mais correta) o que o respondente estava considerando na hora de responder a pergunta é tão importante quanto a resposta que essa pessoa deu.

Não tem nenhuma conclusão nesse texto, só eu pensando em como instrumentos de avaliação já são um instrumento avaliador de si mesmos. Refletindo sobre isso agora, também me veio em mente que isso é verdade também para provas, concursos; enfim, tudo o que exige a formulação de um questionamento e possibilidades de respostas. 

Sobre o estudo em si, já recebemos mais de 100 respostas!! É uma amostragem ridícula se a gente for ver a quantidade de pessoas que transitam na firma, mas eu esperava bem menos. A maioria são elogios, mas mesmo as críticas estão bem dentro do que a gente esperava. 

Enfim, sinal de que meu teste passou no teste HIHIHIHIHI.

Beijo! Amo vocês! 

Referências

DUKE UNIVERSITY. DUL student survey, 2023. Disponível em: <https://public.tableau.com/views/DULstudentsurvey2023/StaffDashboardfor2023StudentSurvey?:embed=y&:showVizHome=no&:host_url=https%3A%2F%2Fpublic.tableau.com%2F&:embed_code_version=3&:tabs=no&:toolbar=yes&:animate_transition=yes&:display_static_image=no&:display_spinner=no&:display_overlay=yes&:display_count=yes&:language=en-US&:loadOrderID=0>. Acesso em: 25 set. 2025. 

FELICIO, Joana Carla da Matta et al. Estudo de usuários da biblioteca universitária da Universidade Federal De Santa Catarina (BU/UFSC). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2021. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/223311>.

LE COADIC, Yves-François. A Ciência da Informação. Brasilia: Briquet de Lemos, 1996. 




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Artemyss, bibliotecária e cosplayer. Divide o tempo entre reclamar da vida e jogar Borderlands. Fotógrafa, trilíngue, shippeira e fangirl. Blog de opiniões pessoais e cotidiano com assuntos aleatórios. Atualmente está refém das amarras do capitalismo e não consegue mais fazer lives, mas está o dia todo procrastinando no BlueSky 🦋 (+)

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